Verdadeira Força

Vou ensinar-te aquilo que considero ser a verdadeira força:
Acredite que existe uma forma boa de resolver as coisas,
Então, parta para a busca, sem cessar, até encontrá-la.

Estas simples linhas, quando aplicadas à vida, revelam-se difíceis.
Nem sempre a solução será óbvia, nem sempre será encontrada.
O que fará? Entregará-te ao mal para fazer o bem? Isto é possível?

Afirmo que é possível fazer o bem sempre que estamos dispostos,
Pois sempre podemos sacrificar a nós mesmos pelo bem do próximo.
Quando não o fazemos é que revelamos nossa verdadeira fraqueza:
Não acreditar que a vida será capaz de realizar nossos desejos.

Não se culpe, porém, de não ser capaz de fazer o bem. Não é fácil.
A força de fazer o bem não parte de nós, mas parte de nós o desejá-la.
Mais vale uma vida desejando fazer o bem, mesmo que nunca o realize,
Que uma vida realizando o mal, mesmo que seja para alcançar o bem.

Sacrifício

Então é você que quer sacrificar sua vida por um bem maior?
Que bem seria este? A defesa dos pobres? A luta contra o mal?
Ou seria sua própria vida? Cuidado para não sacrificar-se em vão.

Olhe para a história, olhe para os livros sagrados. Você não vê?
Você não será o primeiro a pensar nos pobres, a combater o mal,
Ou a cuidar de si. Será apenas mais um se não abrir seus olhos.

Enxergue seu tempo, sua humanidade. O que ela pede de você?
Só assim estarás pronto para sacrificar-se, seja lá pelo o que for.
Teu sacrifício não será em vão: se eternizará no coração de Deus.

Sofrimento do mundo

Fecho meus olhos e contemplo a eternidade,
Quanta dor já existiu e ainda existirá no mundo?
Filhos sem mãe ou sem pai, perdidos na guerra.
Fome, frio, ferimentos. A morte vem em seguida.
Quantas mortes aconteceram e foram esquecidas?

Diante disto a dor se torna banal.
O que é mais um ser que sofre?
Um animal indefeso, abandonado,
Atropelado por um carro, esmagado.
Nada mais que apenas uma morte.

Perdi meu coração? Não sinto mais a dor do outro.
O mundo se deteriora e em meu coração só há vazio.
O vazio do meu coração dói, ainda não estou morto.
Não posso, porém, carregar o sofrimento do mundo.
Posso somente ser responsável por aquele que causo.

Sofrimento causado pelo meu egoísmo,
Sofrimento causado pela minha ignorância.
Assim como eu já sofri pelos erros dos outros,
Assim farei outros sofrer através de meus erros.
Suportaria eu o sofrimento causado por mim?

Lembro-me, porém, que nem todo sofrimento é ruim:
Como um músculo que precisa se machucar para se fortalecer,
Como um pássaro que precisa quebrar o ovo para nascer,
Que seja este o sofrimento que eu cause aos outros:
O sofrimento que gera vida ao invés da morte.

Aprendendo a desejar

Não se engane! Aquilo que deseja não depende apenas de ti.
Estás achando que estou a mentir ou enganar-te? Pois pense:
Se dependesse apenas de ti, certamente buscarias, sem cessar,
Pelo teu desejo até alcançá-lo e se saciar temporariamente.

Engana-te quando pensas que podes controlar o que desejas.
Quantas foram as vezes que, desejando muito algo, aguardastes,
E, ao obtê-lo, te frustrastes? Talvez uma vez tenha até funcionado,
Mas te iludes quando pensas que sabes o que queres. Tu não sabes.

Vive-se um dia de cada vez com sua descoberta e seu mal.
Hoje isto funciona. Amanhã pode não mais. Te sentes inseguro?
Todos os dias o desconhecido se apresenta a ti. O que tu farás?
Aprendas a viver para que não sofras de uma vida mal vivida.

Como aprender a viver? Sugiro aprender com os que já viveram.
Se estás a descobrir uma novidade, avalias se vale teu sacrifício.
Descubras em ti o bem que combaterá o mal. Faças disto teu desejo.
Assim, não temerás e viverás a aproveitar o que a vida te trouxer.

Servindo a vida

Estou aqui e agora para servir,
Com bondade, sinceridade, amor.
Se nada eu conseguir fazer aqui,
Então este lugar não serve a mim.

Eu sirvo a vida e não a morte,
Portanto, se for para algo morrer,
Que não morra o outro, fora de mim,
E sim o que em mim não serve a vida.

Se nada em mim servir a vida,
Que morra eu mesmo, por inteiro,
Pois de nada vale a vida em mim,
Se não for para que eu a sirva.

Adoração primordial

Ao fechar meus olhos e olhar para cima,
O que vejo é uma infinidade de formas,
Todas as quais o meu coração desejar.

Ao fechar meus olhos e olhar para frente,
O que vejo é uma infinidade de vazio,
Uma escuridão indiferente ao que sinto.

Ao fechar meus olhos e olhar para baixo,
O que vejo é uma infinidade de matéria,
Morta e previsível, vagando eternamente.

Abro os meus olhos e vejo meu corpo,
Da matéria sou feito, mas não só dela,
Pois há um imenso vazio dentro de mim.

Abro os meus olhos e vejo o tempo,
Não sou eterno, porém o desejo ser.
Como preencher este imenso vazio?

Abro os meus olhos e vejo o universo,
Transformá-lo-ei, através do meu corpo,
Darei a ele as formas do meu coração.

As formas eternas, as formas de beleza,
Que irão preencher-me e saciar meu ser,
Para eu transcender e contemplar a vida.

As narrativas da existência

Olho para as estrelas contemplando a eternidade.
Como pode a criatura ser menor que seu criador?
De alguma forma ele busca comunicar-se conosco.
Quem tem as palavras para compreender o que ele é?

Através da história muitos comunicaram o que viram.
Alguns aprenderam e não precisaram voltar do inicio,
Deram continuidade ao caminho revelando ainda mais.
Outros ignoraram por terem foco na sua atualidade.

Períodos históricos nascem através morte de outros.
Quem luta por seu tempo está de olho no que é novo,
Mas também preocupa-se com sua identidade e origem.
Sua comunicação precisa ser imediata, mas grandiosa.

Há quem não preocupa-se com o quem é, de onde veio.
Sua própria vida é importante, é um desafio a ser vencido.
Comunica-se com seus familiares, amigos, busca por amor.
Sofre o peso das suas escolhas e aprecia os prazeres da vida.

Acaso o que contempla a eternidade não tem necessidades?
E o que se revela, não deseja comunicar-se com o que vive?
Aquele que luta o faz por algo maior que si sem enganar-se:
Compreende que ele mesmo não é maior que os menores.

Do espírito à matéria, da razão ao animal, somos todos um só.
Quem não é o que somos ainda não encontrou a si mesmo,
Busca por inimigos e destrói a si mesmo para atingi-los.
Em nada inova ou colabora, para ele nada faz sentindo.

Seu castigo é destinar-se ao esquecimento, ou pior:
Não morrer em paz e assim passar pela eternidade.
Quem encontra-se repousará na eternidade do que é.
Busque a si, dentro e fora. Conte-nos sua existência.